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Revolução de Zanzibar

De Wiki Polandball Lusofónica

A Revolução de Zanzibar foi responsável pela deposição do sultão de Zanzibar e de seu governo de maioria árabe por revolucionários africanos em 1964. Um estado etnicamente diverso consistindo de uma pequena quantidade de ilhas situadas à costa leste de Tanganica, Zanzibar ganhou sua independência da Grã-Bretanha em 1963. No entanto, uma série de eleições parlamentares culminaram com a minoria árabe retendo o poder político herdado da época em que Zanzibar era um território ultramarino de Omã. Frustrados pela pouca representação no parlamento apesar de obterem 54% dos votos, o Partido Afro-Shirazi (PAS), de maioria africana se aliou ao Partido Umma, de inclinação esquerdista, e no começo da manhã do dia 12 de Janeiro de 1964 o membro do PAS John Okello mobilizou entre 600 e 800 revolucionários na ilha de Unguja. Tendo uma vez saqueado a polícia do país e se apropriado de suas armas, os insurgentes seguiram para a Cidade de Zanzibar, onde depuseram o sultão e seu governo. Represálias contra os civis árabes e austro-asiáticos na ilha se seguiram; a contagem de mortos é disputada, com estimativas variando de muitas centenas a 20 000. O líder moderado do PAS Abeid Karume se tornou o novo presidente e chefe de estado do país e posições de poder também foram cedidas a membros do Partido Umma.

As aparentes simpatias comunistas do novo governo preocuparam o Ocidente e uma vez que Zanzibar se situava dentro da esfera de influência britânica, o governo britânico preparou uma série de planos de intervenção. Entretanto, a temida retomada comunista nunca se materializou e os cidadãos britânicos e americanos foram evacuados com sucesso, logo, tais planos nunca foram postos em prática. Enquanto isso, potencias do bloco comunista como a China, Alemanha Oriental e União Soviética estabeleciam relações amistosas com o novo governo, reconhecendo o país e enviando conselheiros. Karume negociou uma fusão de Zanzibar com Tanganica — um ato julgado pela mídia contemporânea como uma tentativa de prevenir a subversão comunista em Zanzibar. A revolução pôs fim a 200 anos de domínio árabe em Zanzibar e seu aniversário é comemorado todos os anos no arquipélago com celebrações e um feriado público.

O arquipélago de Zanzibar, hoje parte da república da Tanzânia na África Oriental, consiste em um grupo de ilhas que se encontram no Oceano Índico, próximo à costa de Tanganica. Ele é composto pela ilha principal de Unguja ao sul (também conhecida como Zanzibar), pela pequena ilha de Pemba ao norte, e por outras numerosas ilhotas. Com um longo histórico de domínio árabe datando de 1698, Zanzibar foi um território ultramarino de Omã até alcançar sua independência, em 1858, passando a ser regida por um sultanato próprio.[2] Em 1890, durante o reinado de Ali ibn Said, Zanzibar tornou-se um protetorado britânico[3] e, embora nunca tenha estado formalmente sob comando direto, era considerado parte do Império Britânico.[4]

Em 1964 o país era uma monarquia constitucional governada pelo sultão Janxide ibne Abedalá. Zanzibar possuía uma população de cerca de 230 000 africanos — alguns dos quais alegavam ser de descendência persa e eram conhecidos localmente como “shirazi"[5] — além de significativas minorias de 50 000 árabes e 20 000 austro-asiáticos, que ocupavam lugares de destaque no comércio e nos negócios.[5] Os vários grupos étnicos estavam gradativamente se misturando e as distinções entre eles tornavam-se mais tênues; de acordo com um historiador, uma importante razão para o apoio geral ao sultão Janxide era a diversidade étnica de sua família.[6] Entretanto, os habitantes árabes das ilhas, sendo os maiores proprietários de terras do arquipélago, eram em geral mais ricos que os africanos;[7] os partidos políticos mais importantes eram organizados em grupos étnicos, com árabes dominando o Partido Nacionalista Zanzibari (PNZ) e africanos compondo o Partido Afro-Shirazi (PAS).[6] O PNZ tinha o Egito como seu modelo, o que causava uma certa tensão com os oficiais coloniais britânicos; contudo, Zanzibar havia sido dominada por séculos pela sua elite árabe, e o Escritório da Colônia não conseguia conceber uma Zanzibar governada por negros.[8]

Em janeiro de 1961, como parte do processo de descolonização, as autoridades britânicas da ilha demarcaram distritos eleitorais e realizaram eleições democráticas.[7] Tanto o PAS quanto o PNZ ganharam 11 dos 22 assentos no parlamento de Zanzibar,[6] então novas eleições foram realizadas em junho com o número de assentos aumentado para 23. O PNZ entrou em uma coalizão com o Partido do Povo de Zanzibar e Pemba (PPZP) e desta vez conseguiu 13 assentos, enquanto o PAS, mesmo obtendo a maioria dos votos obteve apenas 10 assentos.[6] O PAS suspeitou de fraude eleitoral e a desordem civil se alastrou, resultando em 68 mortes.[6] Para manter a ordem, o governo de coalizão baniu os partidos de oposição mais radicais, encheu os serviços públicos com pessoas nomeadas pelo alto-escalão governo e deu caráter político à polícia.[7]

Em 1963, com o número de assentos aumentado para 31, mais uma rodada de votações veio acompanhada da repetição dos eventos das eleições de 1961. Devido ao planejamento dos distritos eleitorais, o PAS, liderado por Abeid Amani Karume, ganhou 54 por cento do voto popular, mas ficou com apenas 13 assentos,[9] enquanto o PNZ e o PPZP ganharam o restante, fortalecendo sua posição no poder.[7] O Partido Umma, formado naquele ano por apoiadores árabes socialistas do PNZ,[10] foi banido e todos os policiais de origem africana foram demitidos.[9][11] Isso removeu uma ampla porção da única força de segurança na ilha e criou um grupo de homens furiosos com treinamento paramilitar e conhecimento dos edifícios, equipamentos e procedimentos policiais.[12]

A independência completa do domínio britânico foi concedida em 10 de dezembro de 1963, com a coalizão PNZ/PPZP como o corpo governante. O governo solicitou um tratado de defesa com o Reino Unido, pedindo para que um batalhão de tropas britânicas permanecesse estacionado na ilha para tarefas de segurança interna,[13] mas isto foi rejeitado, pois os britânicos julgavam inapropriado que suas tropas se envolvessem na manutenção da lei e ordem tão logo após a independência.[13] Relatos do serviço de inteligência britânico prediziam que uma desordem civil, acompanhada por uma crescente atividade comunista era provável em um futuro próximo e que a chegada de tropas britânicas poderia fazer com que a situação se deteriorasse ainda mais.[13] No entanto, muitos cidadãos estrangeiros permaneceram na ilha, incluindo 130 britânicos, que eram empregados diretos do governo de Zanzibar.[14]

Por volta das 03h00 do dia 12 de janeiro de 1964, entre 600 e 800 insurgentes — a maioria africanos — auxiliados por alguns ex-policiais demitidos, atacaram os postos policiais de Unguja, os dois arsenais da polícia local e a estação de rádio.[13][15] Os policiais árabes da reserva praticamente não haviam recebido treinamento efetivo e, apesar de terem respondido com uma força móvel, foram logo vencidos.[15][16] Armados com centenas de fuzis automáticos, submetralhadoras e metralhadoras bren, os insurgentes tomaram o controle de edifícios estratégicos na capital, a Cidade de Zanzibar.[17][18] Dentro de seis horas após a deflagração das hostilidades, o escritório de telégrafo da cidade e os principais edifícios do governo estavam sob controle dos revolucionários e a única pista de pouso da ilha foi capturada às 2:18 da tarde.[17][18] O sultão, juntamente com o Primeiro Ministro Muhammad Shamte Hamadi e membros de seu gabinete, fugiram da ilha a bordo do yacht real “Seyyid Khalifa” [18][19] e o palácio e as propriedades do sultão foram confiscadas pelo governo revolucionário.[20] Pelo menos 80 pessoas foram mortas e outras 200 feridas durante as 12 horas de confronto que se seguiram nas ruas, a maioria das quais árabes.[20] Sessenta e um cidadãos americanos, incluindo 16 funcionários de uma estação de rastreamento de satélites da NASA, encontraram abrigo no Clube Inglês na Cidade de Zanzibar e quatro jornalistas norte-americanos foram detidos pelo novo governo da ilha.[18][21]

De acordo com a história oficial de Zanzibar, a revolução foi planejada e liderada pelo líder do PAS Abeid Amani Karume.[13] Entretanto, na época, Karume estava na África continental tal como o líder do banido Partido Umma Abdulrahman Muhammad Babu.[19] O secretário da filial de Pemba do PAS, o ex-policial ugandense John Okello, enviou Karume à África continental para garantir sua segurança.[15][19] Okello chegou a Zanzibar vindo do Quênia em 1959,[6] alegando ter sido um marechal-de-campo para os rebeldes quenianos durante a revolta dos mau-mau, apesar de, na verdade, não ter experiência militar alguma.[15] Ele afirmava que ouvia uma voz comandando-o, como um cristão, para que livrasse o povo de Zanzibar do domínio dos árabes [6] e foi Okello quem liderou os revolucionários — em sua maioria membros desempregados da Liga Juvenil Afro-Shirazi — no dia 12 de janeiro.[11][13] Um comentador em particular especulou ainda que foi provavelmente Okello, juntamente com a Liga Juvenil, que planejou a revolução.[13]